Personagem Masculino: Josh Hutcherson
Personagem Feminino: Bonnie Wright
Unconditional - Picture This
Palavras: chuvisco, porco, letras, cansada, desculpas e fones.
Não é apenas o fato de João Rico ser rico de fato, mas sim, o caso da família Rico ser proprietária da Armarinhos Rico, que já está em sua sexta filial pelo país. É pra lá que ele vai, provavelmente, quando se formar com honras na especialização de administração que está fazendo. Ele já cuida de uma filial em São Paulo e logo deve ir para as demais, porque seu pai já não tem mais saúde para fazer tudo que gostaria, como eu já o ouvi mencionar para um de seus melhores amigos, que por um acaso, é o meu irmão.
Sendo assim, o Rico, como todo mundo já apelidou, é um cara legal e posso falar isso com propriedade, não que eu o faça, de fato, porque prefiro manter a discrição. Ele faz parte da comissão de formatura, mas também participa de uma ONG afastada do centro nos finais de semana; ama os animais, encontra tempo para bater papo com os amigos e dificilmente você vai vê-lo sozinho andando por aí, mas sim numa rodinha de amigos.
Eu sei que o Rico tem a sua cota de mulheres, porque já ouvi muitas delas falando do V formado em seu abdome, os seus atributos e euzinha já flagrei um rastro de pelos escuros que descem por baixo do calção de banho que esconde tudo. Não que eu tenha ficado tanto tempo observando isso, né? Imagine se eu faria algo desse tipo...
E com isso tudo, é claro que é muito popular. Ele já é mais maduro, no auge dos 28 anos, solteiro e sem filhos, mas todas as vezes que tem algum evento na Universidade, ele mexe com as crianças e é sempre muito bem recebido por todas elas.
Claro que ele não é perfeito.
Ele usa lentes de contato na maior parte do tempo porque seus óculos são pesados e as armações sempre machucam seu rosto e reclama horrores de ter que colocá-las porque sempre acaba ficando com os olhos vermelhos. Ele geralmente é muito bem humorado, mas quando as coisas não saem do jeito esperado na cozinha, o que é quase sempre, ele fica muito irritado consigo mesmo e acaba achando que está horrível, muitas vezes aparecendo com os dedos roxos dias depois e uma frustração aparente por ter descontado tudo num saco de pancadas.
E ele é baixinho.
Eu tenho 1,70m e perto de mim, temos uma cabeça de diferença, e mesmo assim eu me vejo fantasiando, colocando os braços ao redor do seu pescoço e enlaçando ele enquanto eu beijo sua...
- Laura?
Tirei os fones, claramente perdida na minha própria trilha sonora do nosso casamento que jamais foi marcado porque foi tudo coisa da minha cabeça. Rico é solteiro até onde eu sei, e nós não temos nada além da amizade por ele ser próximo da família.
- Sim?
- Você ouviu o que eu disse? Você parece cansada... - Rico está balançando os dedos em frente aos meus olhos. Ele tem um meio sorriso no rosto, mostrando a covinha por cima da barba. - Já te peço desculpas por atrapalhar, mas... - Ele continua me encarando com aqueles olhos castanhos de cílios grandes. - Seu irmão me pediu pra te procurar, ele disse que você poderia estar precisando de ajuda para pendurar a placa da campanha de doação de sangue e do baile anual também. Você precisa ainda, não precisa?
Estava muito ocupada pensando sobre ele, que tinha anotado no meu caderno as letras dos nossos nomes juntos, exatamente como fazia quando tinha uma paixãozinha escolar. Boba. Esperava que ele não tivesse notado... Corri os olhos pelo papel decorado com animaizinhos e até alguns porcos pequeninos no final da folha, o bloco de fichário emprestado da filha da minha melhor amiga, que insistiu para que eu usasse no dia-a-dia. Se eu queria parecer mais madura, escolhi a hora errada para falar para meu irmão que eu poderia precisar da ajuda de alguém para pendurar placas.
E se tem uma coisa que Rico gosta, é de altura - exatamente a coisa que eu mais odeio por causa do pavor.
Assinto, ainda sem conseguir falar. Ele pegou as placas que estavam ao meu lado, enquanto eu ainda anotava as datas na agenda.
Em seguida, me levantei para acompanhá-lo para levá-lo exatamente aonde precisava que ficasse as placas, e minha labirintite atacou, me causando uma leve vertigem. Rico colocou a mão em minha cintura, deixando as placas caírem no chão.
- O que aconteceu com você, Laura?
- Deve ser o labirinto, faz tempo que não atacava, mas eu ando meio resfriada... E meu ouvido sempre dói com mudança de tempo... Acho que levantar rápido não ajudou.
Mas ele não me soltou. Ele me fez parar para beber um pouco de água no corredor da faculdade.
-Seu irmão pediu para eu ficar de olho em você também. Ele me falou que você estava com essas tonturas... - Ele arqueou a sobrancelha me analisando. - Sabe, Laura... Você pode bancar a durona, fingindo que nada de atinge, mas eu sei a verdade.
Gelei e tenho certeza que meus olhos arregalados me denunciaram.
-Você sabe?
Ele assentiu devagar, sorrindo e me soltando, mas colocou meu braço em seu ombro, pegando em seguida as placas caídas.
-Sei. - Engoli seco. - Eu vi você assistindo aquelas comédias românticas há alguns dias quando eu estava falando com o Gael. - Me lembro bem desse dia. Rico deu uma passadinha lá em casa e eu estava assistindo A Nova Cinderela com o Chad Michael Murray novinho. Ai, ai... - Você estava com um... - Ele sorriu de lado de novo, me olhando de soslaio com as sobrancelhas arqueadas. - Sorriso bobo. Foi aí que me dei conta da sua máscara de durona.
Quase suspiro de alívio por ele achar que é isso.
-As coisas são muito mais simples nos filmes. Com alguns chuviscos, um beijo na chuva e um felizes para sempre e tudo fica resolvido. Gosto dessa facilidade que eles proporcionam...
Ouvi o risinho, mas ele não disse nada enquanto eu apontava para o prédio da secretaria. Ele pegou a escada lá dentro. Enquanto pregava a primeira placa, fingi que não estava olhando para a calça jeans clara e a camiseta subindo. Antes de subir, ele me fez aguardar sentada no banco do lado de fora da sala para que a tontura não me fizesse cair.
-Mas eu preciso ser durona pra poder dar suporte pra minha família.
-Você pode ser fraca às vezes, não precisa ser forte o tempo todo... E você sabe que tem amigos e família que podem te apoiar. - Ele falou do alto da escada antes de descer novamente. - Às vezes a gente tem que se permitir a fraqueza para encontrar a fortaleza no outro.
Olhei para ele com a sobrancelha arqueada.
-De onde vem tanta sabedoria, João? - Eu ri, disfarçando um pouco o nervoso com tanta proximidade.
- Já ouviu falar que os melhores perfumes estão nos menores frascos? - Ele riu fazendo alusão à sua altura e me ajudando a levantar, apesar da tontura já ter passado a essa altura. -Pode não ser o meu caso, mas esse frasquinho aqui pode te ajudar a voltar pra a biblioteca sem cair, te juro.
Antes de ir embora, ele me deixou sentada na biblioteca novamente, com os meus fones de ouvido com a minha playlist da trilha sonora que ele nunca poderia descobrir, até que ele pegoi um fone e reconheceu a canção.
-Gosto dessa música que você tá ouvindo no repeat.
This magic, I don't know what it is but we have it
Even when we're sleepless and damaged
Essa magia, eu não sei o que é mas temos
Mesmo quando estamos insones e feridos
-Talvez pudéssemos trocar algumas músicas boas como essa qualquer dia. Mas vai ter que escutar meu bom gosto variado...
-Só se eu puder te encher de Nickelback também.
-Eu acho que... Posso lidar com isso. - Ele me deu uma piscadela e se despediu com um beijo na minha bochecha. - Amanhã vou entregar o skate do seu irmão e enquanto eu arrumo a mesinha do jardim, conversamos um pouco. Que tal?
Assenti com um sorriso. Parecia um início de uma bela amizade... Mas deixa eu sonhar com minha ceninha de comédia romântica, sim?
Antes dele sair, eu poderia jurar que tinha ouvido algo como "tomara que chova"...
Acho que foi coisa da minha cabeça. Quem sabe?
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