Words Challenge 2022 - Dark

Hey cupcakes! Como vocês já sabem, eu e a Alê do blog Estante da Alê anualmente preparamos com muito carinho um desafio de palavras durante o ano todo, onde podemos nos desafiar e trazer um texto diferenciado no conteúdo dos nossos blogs. No ano de 2021, fizemos alguns clichês que amamos - cada mês um tema. E, nesse ano, os clichês continuam, porque tem muito clichê! Os temas são diferentes e esperamos que vocês possam curtir e continuar nos acompanhando no Insta Rascunhando Memórias. Que tal conferir o nosso tema da vez na minha versão de Dark Romance?

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Continue lendo para conferir!

Põe pra tocar: Pus - Sufle


Elenco:
Personagem Masculino: Alp Navruz
Personagem FemininaLeyla Lydia Tuğutlu

Palavras: 

Natal, melhor, interruptor, progresso, passado e solar

Era o final do verão e o outono estava se aproximando, com uma chuva atípica no final da manhã. Tudo que eu precisava era pegar os documentos para mostrar o progresso da situação para minha chefe. Os números cresciam a cada dia e nosso alcance já estava em mais de trezentos e cinquenta por cento em relação à semana anterior. Os números jamais mentiriam.

Era melhor que eu fosse embora logo. Logo ela se daria conta de que eu estava demorando mais que o esperado e...

Era a primeira vez que ela tinha que parar no hall do prédio, com a sua bolsa tiracolo vermelha envolta em plásticos para não molhar os contratos e os documentos que uma vez ouvi comentando com o Daniel da recepção. O mesmo Daniel que daria olhares furtivos e um sorriso sacana que já vi endereçar a ela assim que voltasse ao seu posto para atendê-la. E fiquei feliz por ele estar longe naquele momento.

Era também a primeira vez que eu a via tomando chuva sem se importar com o cabelo molhado enrolando no pescoço ou em chegar pingando no hall do prédio chique. Sem se importar com uma sombrinha ou guarda-chuva em sua mão. Não havia nem sinal deles. A água era absorvida pelas suas roupas e marcava todos os lugares que davam margem à minha imaginação fértil, aguardando o recepcionista que parecia demorar uma eternidade.

Engoli seco quando olhei novamente... 

Aqueles seios marcados pela camiseta, a calça escura envolvendo as coxas e os cabelos grudados também na boca, estavam tomando toda a minha atenção. Estavam recebendo toda a atenção que certamente não desejavam. Desviei o olhar para outro lugar, a fim de focar em algo para esfriar a cabeça, só que quando fiz isso, percebi cicatrizes no seu braço. Vermelhas, ainda recentes. E uma fina linha branca em seu pescoço.

Ela balançou os cabelos e comecei a notar algumas coisas.

A garotinha que atravessava a rua agarrada à mãe, segurando um balão de Natal fora de época.

O céu nublado com mais nuvens escuras que deixavam o dia horas antes tão solar, parecer quase noite.

O meio de locomoção dela.

O caminhão de entregas estava com um telefone na lataria e também a palavra "mudanças". E a figura como um todo me lembrava de coisas que já havia esquecido, coisas que ferraram minha cabeça e esconderam os cacos de um homem estilhaçado dentro de uma carcaça atraente, com uma barba por fazer e cabelos desarrumados. Pele bronzeada. Uma cicatriz, branca como a dela e com uma linha fina, que descia até a clavícula escondida pela camisa cara e o blazer escuro. Coisas que escondem a verdadeira imagem que eu não posso deixar transparecer e todas as coisas feias que estão por baixo da pele. Por baixo das malditas memórias e palavras.

Ao contrário da moça, a chuva me dava pavor. As gotas escorrendo pela minha pele só me faziam estremecer pelos motivos errados. O mesmo baque surdo, o sangue escorrendo e a dor depois de cada pancada. A pressão caindo lentamente e aquela sensação de desmaio próxima...

A energia oscilou e finalmente caiu, fazendo com que eu voltasse das lembranças também.  Apertei o interruptor para testar, mas nada de luz. Além da água, o escuro... Era demais pra minha pobre mente perturbada... Talvez não tão vítima assim.

Apertei o balcão com as unhas e deixei a caixa de papelão fechada em cima dele. A moça me deu um meio sorriso e encarei aqueles lábios pintados, sem entender a reação que minha respiração teve depois disso.

Vacilei por um instante e ela me encarou, torcendo os cabelos na mão.

— Vou ver o que está acontecendo.

Ela acenou e me deu um sorriso... Meigo, me observando com aqueles olhos castanhos que me lembravam do conhaque que eu beberia mais tarde. Eu precisaria esquecer aquela tarde.

Percebi os seus dedos se apertarem na tira da bolsa quando peguei o guarda-chuva que estava encostado na porta e a sua feição mudar para... Algo parecido com dor. E eu conheço muito bem esse sentimento, porque já passei e infligi tanta dor quanto foi possível nessa vida.

Quando o abri, para entender o que tinha acontecido lá fora, o guarda-chuva bateu na porta e ouvi um murmúrio, seguido de um arquejo e uma reação inesperada por parte dela: a moça suspirou e segurou a respiração. Estremeceu. Os olhos encheram de água aos poucos. A mão foi levada ao peito antecipando as batidas aceleradas do coração. Percebi tudo isso naquele instante, porque parecia que naquele momento éramos apenas nós. Presos ao nosso passado marcado por lembranças.

Mas o momento se dissipou com a mesma velocidade que Daniel apareceu na porta, antes que eu pudesse sair e enfrentar a chuva.

— Voltei, Sr. Lorenzo. Aparentemente o pacote estava perdido, mas é endereçado a sua chefe. Por algum motivo, ele estava escondido no meio de todas as outras centenas de caixas. Mas está aqui. — Ele me entregou a caixa embrulhada, apontando a lanterna para o destinatário. — Mais algo que posso te ajudar?

— Acho que não. Tudo ok. Obrigado, Daniel. —  Eu já estava me virando, quando a moça se aproximou.

— Espera! Lorenzo Grinoletto?

Assinto com curiosidade.

— Tenho uma... Uma entrega pra você. Você pode vir comigo?

Estranho porque eu não costumar dar meus endereços para ninguém e ela me olha com aqueles olhos atraentes que não me deixaram dizer não.

— Claro.

Como se fosse normal. 

Ela voltou para a chuva e a segui, abrindo o guarda chuva com cuidado. Quando ela se aproximou do seu caminhão, ela abriu a porta e se curvou, buscando alguma coisa. Desci os olhos instintivamente, e quando desfoquei minha atenção, de suas mãos, ela girou com destreza e me puxou pelo colarinho, com a boca muito próxima da minha e me encarou, embaixo da chuva, dizendo:

— Lembra de mim, Lorenzo? — A voz rouca sussurrou no meu ouvido e me arrepiei. Merda de reação corporal. A mesma que eu sempre tive, como não me dei conta? 

Os sinais estavam lá. 

E um choque em meu pescoço.

Eu a conhecia, é claro, e ela fazia parte do passado que eu precisava esquecer. Me causava repúdio pelas coisas que fiz. Me dava náuseas pela dor que causei... Só que antes de tudo isso, eu a conhecia. E eu sentia coisas muito melhores do que todos esses sentimentos ruins.

Mais flashes de memória e eu estava no elevador. 

Beijos furtivos, minha boca no seu pescoço, suas mãos em... Noites em claro, com joguinhos de sedução. Jantares íntimos. Um cachorro, um peixe e sonhos quebrados. A escadaria que guarda memórias mais quentes do que eu poderia imaginar.

Tudo escuro.

Mais flashes ou seria outro sonho?

Segurando-a em meus braços. Eu poderia jurar que ela estava morta. As mesmas cicatrizes... Como não me dei conta? Seus olhos eram acinzentados e não castanhos. Os cabelos eram louro-escuros e não os castanhos com mechas claras que ela usava agora. O nariz menos arrebitado. O perfume floral forte que ela usava.

Ela estava fugindo de alguém com toda aquela nova faceta e visual, mas primeiro ela tinha fugido de mim, mas por nós. E por isso eu tive que me tornar outra pessoa, outra coisa que não me orgulho até hoje.

Eu não a culpo. Eu também teria fugido se eu pudesse. 

E acredite, eu tentei por muito tempo. As marcas não me deixam mentir.

Quando acordei novamente, eu estava em um quarto, meus pulsos amarrados à cama. Bem longe do guarda-chuva que eu mantinha perto de mim. E ela bem longe daquelas roupas molhadas que colavam exatamente do jeito que eu gostava.

Agora ela usava outra coisa. E eu também. Como eu tinha chegado aqui? Não fazia ideia da história que ela tinha inventado. Só que... Ela tinha toda minha atenção.

O baby doll gasto que ela usava comigo, e eu de samba-canção. A mesma. Sim, a mesma.

— Agora que estamos só nós... — Ela olha para o relógio de cabeceira, mas não consigo enxergar que horas são. — Acho que podemos continuar e você me conta exatamente de onde paramos, meu amor.

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