O segundo ano escolhido, foi a Revolução Francesa em 1789. Devo confessar que eu me surpreendi e mergulhei de cabeça nesse texto! Continue lendo para conferir e não deixe de conferir também no Estante da Alê! 😍
Palavras: dente, tecido, vaca, luva, rachado e pregador.
Desafio de Fevereiro/2020
O estardalhaço que vinha acontecendo desde 14 de julho era absurdo. Tomei um trago do vinho e desci o copo mais uma vez. Estava sentado à um canto, acompanhando com olhos atentos tudo que vinha acontecendo. E era melhor que todos me vissem ali, pensando que eu não fazia nada, que era só mais um apreciador de bebidas comum na França, que a cada dia se tornava mais revolucionária. Apalpei um pedaço de pão no meu bolso para levar para minha sobrinha mais tarde - estava supondo que minha irmã não conseguiria muito hoje na confecção com os tecidos escassos desde a decapitação daquele homem deixada no centro da cidade para que todos pudessem ver.
O estardalhaço que vinha acontecendo desde 14 de julho era absurdo. Tomei um trago do vinho e desci o copo mais uma vez. Estava sentado à um canto, acompanhando com olhos atentos tudo que vinha acontecendo. E era melhor que todos me vissem ali, pensando que eu não fazia nada, que era só mais um apreciador de bebidas comum na França, que a cada dia se tornava mais revolucionária. Apalpei um pedaço de pão no meu bolso para levar para minha sobrinha mais tarde - estava supondo que minha irmã não conseguiria muito hoje na confecção com os tecidos escassos desde a decapitação daquele homem deixada no centro da cidade para que todos pudessem ver.
Tirei o meu pequeno ábaco do bolso e fiz os cálculos rapidamente movimentando as pedras entre a esquerda e a direita e o resultado seria catastrófico. Eu precisava fazer alguma coisa e não ficar lá parado, mas como eu era um infiltrado das tropas, eu precisava agir com cautela. Pedi uma dose de whiskey, porque eu sempre achei que meu cérebro funcionava melhor com uma bebida forte. No balcão, beberrões derramavam cervejas em meio à brindes de uma Revolução que estava apenas iniciando e olhei desconfortável para aquilo. Meu estômago embrulhou com o resultado das minhas contas para aqueles poucos dias enquanto eles comemoravam algo que estava longe de acabar.
– S'il vous plaît, - comecei olhando para o velho gordo calvo e de barba branca que ria com seu dente de ouro e deixava a cerveja escorrer pelo queixo até que olhei para o taberneiro. - uma dose do whiskey mais forte que você tiver aí.
O taberneiro era uma mulher, mas eu suspeitava que ela, na verdade, fosse a filha do homem mais velho ao seu lado que servia mais um grupo de homens que gritavam animados.
– Oui, monsieur.
Ela colocou com delicadeza um pequeno copo de vidro recém-lavado e derramou uma dose dentro dele. Nem uma gota sequer foi para fora. Enquanto ela fazia o meu drink, a observei. Cabelos castanhos e uma pele ligeiramente bronzeada de bons dias de sol. Uma pequena corrente dourada e delicada no pescoço. Lábios rachados. Não a conhecia de nenhum lugar, mas eu me sentia quase que conectado naquele pequeno instante.
Ela me olhou com seus grandes olhos castanhos emoldurados por cílios delicados e me perguntei o que eu estava de fato fazendo ali.– Aqui está, monsieur DeFabre.
– Merci. – Peguei o copo atordoado antes que me desse conta.
– Como... Como você sabe meu sobrenome? - Voltei ao balcão e perguntei com veemência. Ela tampouco pareceu assustada com minha atitude. Ergueu as sobrancelhas com um meio sorriso sedutor no rosto. Meu sangue ferveu quando ela chacoalhou os ombros dando pouca importância e indo para o fundo da taberna.
A segui, dando a volta por toda a frente. Esbarrei em alguns revolucionários enquanto ouvia murmúrios sobre o que estava acontecendo nas ruas. A movimentação já havia reduzido devido ao horário da noite, mas antes de virar o beco, vi o senhor Galliant entrar com uma vaca no seu pequeno estábulo. Imaginei que ele estava tentando passar despercebido e conseguiu apenas pelo horário. A maioria dos que ainda estavam na rua estavam bêbados demais para notar. Segui em frente e encontrei a jovem charmosa e misteriosa fumando um charuto que parecia do tipo caro demais.
– Valentin DeFabre. O último de sua linhagem. Achou mesmo que iria ficar invisível em um lugar como esse? – Ela soltou um trago e mordeu o lábio me olhando da cabeça aos pés. Estremeci e duvido muito que tenha sido por conta da bebida. Se bem que... – Eu não te envenenaria, se é o que está pensando. – Ela se aproximou, cutucando meu peito por cima da camisa. – Eu só venho te observando e até mesmo te segui um dia desses.
Essa mulher não poderia ser real.
– Te vi com sua irmã e sua sobrinha. O pão que você roubou da cesta é para ela, não é? – Ela baixou o charuto e deu dois passos em minha direção. Sua mão apalpou o meu bolso e me assustei quão ousada ela foi. Ela apertou por uma última vez e cutucou meu peito outra vez. – Eu tenho mais para você. Eu sei que as coisas estão ficando complicadas.
Ela tirou do seu avental, um pequeno pacote de papel quente onde eu podia ver a forma de dois pães. Eu não estava entendendo absolutamente nada, mas ela me empurrou na parede e jogou seu charuto no chão.
– Eu posso te dar muito mais, se você me contar o que está escondendo das tropas.
Então era isso?
– Eu não posso te contar nada, é claro.
Ela me prensou mais uma vez com um sorriso sarcástico. Ela levantou a outra mão que estava enluvada, segurou meu queixo e sussurrou coisas que eu jamais ousaria proferir outra vez. Eu estava em suas mãos, além de estar nas mãos da própria França e eu sempre pensei que houvesse sido cuidadoso.
Ouvi suas instruções com atenção para que, depois no meu íntimo, eu pudesse entender e administrar meus pensamentos para não me tornar um pregador daquelas ideias que ela tinha.
Antes de voltar para o balcão, ela me beijou no canto dos lábios e sussurrou no meu ouvido:
– E você achando que a Revolução só tinha começado...
Oh, mon Dieu.
Eu estou muito encrencado.
14 Comentários
Oi, Pâmela tudo bem? Adorei o texto, parabéns! Muito bem escrito. Abraço!
ResponderExcluirhttps://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/
muito obrigada, Luciano!
ExcluirEu não sei o que seria de mim se estivesse em um desafio desses, porque olha, com esse tema, acho que não conseguiria escrever nada mesmo que espremesse minha cuca. kkkk O texto ficou ótimo! <3
ResponderExcluirAbraço,
Parágrafo Cult
kkkkk imagine, só!!! kkkkk
ExcluirOi Pâm, tudo bem?
ResponderExcluirAcabei de ler a história da Alê e vim ler a sua. Estão tão maravilhosa quanto. Apesar de eu ler mais terror e fantasia, se você continuasse a história com certeza eu leria! Você também escreve muito bem!
Até mais;
Mente Hipercriativa
OBRIGADA, HELAININHA <3
ExcluirFico MEGA feliz de ler sua mensagem <3
Uau Pâm, você escreve tão bem. Amo esses desafios, você se supera sempre! ❤
ResponderExcluirhttps://www.kailagarcia.com
Obrigada, Ka!!!!
ExcluirUM DOS MEUS TEMAS E UM DOS MEUS TEXTOS FAVORITOS!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirAMO AMO AMO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
AMOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO FAZER CHALLENGES COM VOCE, AMIGAAAA
ExcluirOi Pam
ResponderExcluirAcho super legal esse projeto de vocês e sempre acabado vidrada nos textos.
Achei super criativo esse principalmente por causa das palavras usadas.
Bjs
https://diarioelivros.blogspot.com/
obrigada, Jess!!!
ExcluirI'll follow you!
ResponderExcluirGosto de personagens assim, inteligentes e sagazes hehe O cara foi enfeitiçado, mon dieu
ResponderExcluirBeijocas
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