Words Challenge 2021 - CEO

Postado em 14 de maio de 2021 às 06:27

Hey cupcakes! Como vocês já sabem, eu e a Alê do blog Estante da Alê anualmente preparamos com muito carinho um desafio de palavras durante o ano todo, onde podemos nos desafiar e trazer um texto diferenciado no conteúdo dos nossos blogs. Esse ano nossas postagens vão ser um pouco mais completas, com direito a elenco, trilha sonora e cenários... Vocês poderão ver um pouquinho delas no Insta Rascunhando Memórias. Que tal conferir o nosso tema da vez na minha versão de CEO?


Continue lendo para conferir!
Põe pra tocar: Tanto - Jesse & Joy ft. Luis Fonsi

Elenco:
Personagem Feminina: Maria Jose Minguez
Personagem Masculino: Emilio Alcaraz



Palavras:
ficar, marca-texto, fantasma, tobogã, oito e neve.


Pela primeira vez sinto que meu tio me colocou nessa enrascada e eu nunca me senti assim antes. Aquele velhinho me paga quando eu chegar na loja. Porque tem algumas coisa erradas com o trabalho dessa vez.

A primeira é que ele nunca me deixa trabalhar sozinha e hoje estou só eu e Deus me guiando.

A segunda é que ele me mandou direto para um prédio de 23 andares no centro da cidade. Um prédio todo espelhado, onde cheguei com meu macacão sujo de tinta, um sorriso amigável e descobri que estava mais chamativa que um marca-texto amarelo no meio das secretárias de terninho escuro e seus batons vermelhos.

Quando perguntei pela sala 13 começou a terceira coisa estranha: a secretária bonita de cabelos presos em um coque elegante e uma saia lápis que parecia ostentar uma pequena fenda, me deu um sorrisinho de desdém e abriu a porta. Sorrisinho não, ela deu uma risadinha pelas minhas costas quando fechou a porta. Se eu falar que não me senti intimidada em ficar naquela sala cinza com absolutamente nada que demonstrasse um toque pessoal, talvez por exceção de um relógio de couro marrom, eu estaria mentindo.

Mas as instruções foram bem claras e eu sempre sigo elas à risca.

Nove horas e trinta e dois minutos depois e está terminado.

Definitivamente o fantasma que habitava essa sala já se foi e está pronto para o novo dono ou dona que será, com certeza, uma pessoa mais feliz com as cores vibrantes que eu pintei. Olho no relógio e o escritório só tem algumas poucas pessoas.

As secretárias deram no pé assim que o horário das 18h soou no alarme - um do qual elas parecem manter em conjunto em seus celulares e saíram dando gargalhadas. Acho que esqueceram de me contar qual era a graça.

Só que eu estava prestes a descobrir.

Ignorei e me permiti ir tomar meu litro de água depois do trabalho finalizado. Vou até a copa e encho um copo de água gelada, experimentando refrescar minha garganta quando escuto um grunhido e um grito alto. Me assusto pois o rugido masculino... Espio pela porta e a sala que eu havia deixado fechada, está com a porta entreaberta.

Oh... Não.

A água desce por meu estômago, mas parece que desce em um tobogã, tamanha a cambalhota que deu. O que eu fiz de errado? Mas meu tio falou que...

Era realmente na sala 13.

Do prédio da Rua Clara Neves de Almeida. Ele deixou bem claro que era o prédio mais alto e espelhado.

Não tem erro.

Termino de tomar minha água, mas o homem é mais rápido do que eu e já está gritando a plenos pulmões para o andar inteiro escutar.

— QUEM FOI QUE PINTOU A MINHA SALA?

Acho que agora entendi porque meu tio me mandou pra cá e com aquele pedido específico de encher de cores e formas. Círculos gigantes e coloridos. Frases inspiradoras geralmente que deveriam ficar na empresa toda, mas estão concentradas na sala do... É claro. Como fui ser enganada assim? O CEO. Respiro fundo e sigo em frente.

— Fui eu, Sr. Montês. — Esse foi o nome que meu tio pediu para chamar. Eu não conhecia nenhum sobrenome desses, mas essa voz... Quando ele se vira eu quase não o reconheço. Só que aos poucos vou absorvendo o traço. A mandíbula pronunciada e a barba por fazer no queixo. A sua carranca realmente o faz parecer um homem mau, mas eu me lembro dele. E de mau.. Bem, não existia nada. O coração dele era de um leãozinho, valente, corajoso e carinhoso, mas parece que cresceram pelos demais e agora age como um urso selvagem.

Ele nunca foi mau. Um pouco chato e ranzinza, mas ele me dava um pote de amoras todas as vezes que eu ficava com vontade. Nós compartilhamos muito mais do que isso, mas prefiro não mergulhar nas memórias e nos detalhes estando a frente desse homem que não reconheço mais.

E eu acho que ele também se lembra de mim, porque ele está bravo e boquiaberto, mas a sua carranca se desmancha, deixando apenas a testa franzida de confusão.

Nunca imaginei que ele pudesse ser o cliente. Não imaginei que ele pudesse ter perdido o seu toque pessoal há tanto tempo. Desvio os olhos para os pés.

Tomara que ele ignore, tomara que ele ignore, ignore e..

— Fer...Nanda? - Aí está o traço que eu conhecia muito bem.

Droga!

Ergo os olhos e ele agora parece impaciente de estar perdendo o seu precioso tempo comigo.

— Parece que o tempo passou, mas você continua me atormen-men-tando. Dessa vez não é pra pegar amora do vizinho, não é mesmo, Fer-Fer-nanda? Você estragou a minha sa-sa-la. - A sua voz se eleva e ele fica vermelho como eu imaginei que ficaria depois que vi que era ele e do quanto tinha mudado em todo esse tempo. A gagueira mais controlada, mas presente. - VOCÊ ESTRAGOU A P...

Aperto os olhos e não acredito que esse filho da mãe está usando o mesmo tom irônico que ele usava comigo mesmo de terno e gravata. Isso vai mudar em segundos... Quer ver?

— SHHHHHH.... Terminou? - Olho para as minhas unhas que estão curtas, sem esmalte e com as cutículas aparecendo. A minha mão está suja de tinta, assim como devo ter algumas manchas no rosto. Encaro os olhos cor de chocolate que conheço tão bem. — Espero que tenha gostado. -— Entrego a ordem de serviço em suas mãos para que ele veja o solicitante.

Ele abre o envelope lacrado.

— MAMÃE!!!!!!!!!!! Ela sabe muito bem que eu mando aqui. Mas ela continua fazendo as coisas por trás das minhas costas. -— Então foi a mãe dele que solicitou... Por isso o danado do meu tio não me deixou abrir aquele bendito envelope. Ele me olha desconfiado. — Sua...

— Termina a frase, Jubirinha. — O encaro de olhos apertados e percebo que seus olhos me encaram claramente incitando o desafio. O apelido antigo o irrita, mas vejo um traço de diversão passar em seu olhar. É tão rápido que quase não é percebido, mas eu o conheço. — Fala o que você tem entalado nessa garganta há oito anos e que agora está estampado o que precisa ser e ter na sua parede. Fala.

Gentileza. Amor. Paixão. Fogo. Descubra quem você é e seja de propósito. Dentre outras que nem quero comentar.

Ele vacila e posso perceber quando seus olhos escorregam pelo primeiro botão do macacão que eu desabotoei pelo calor do sobe e desce das escadas.

— Você sabe que meu nome não é esse. E eu... Bem, não sei o que fazer com isso.

— Mas você sabe que se sua mãe pediu um serviço desses pro meu tio, deve ter tido um bom motivo.

Ele passa a mão pelos cabelos, nervoso. Ele desce os dedos até o pescoço e afrouxa a gravata.

— Certo. Vou falar com ela sobre isso, mas provavelmente você vai ter que voltar amanhã e desfazer tudo isso.

— Ok. Você acerta com meu tio depois, eu só sou a faz-tudo, Ricardo. Como sempre fui pra você. Tchau, chefe. — Faço um sinal na cabeça, como se ele fosse o capitão de algo e dou meia-volta.

Não lhe dou tempo para ver se as palavras o atingiram e ele segura meu braço quando me viro com as latas de tinta para ir embora. Seu toque ainda é gentil. Ele solta um suspiro e sua gravata está ainda mais frouxa. Um botão da camisa aberto.

— Desculpe. Eu... — Ele coça os olhos que parecem cansados. — Só estou no limite. E certamente não esperava por isso. — Ele aponta para a sala e olha pra mim. — E nem por você. E não devo descontar minhas... Frustrações em uma... Velha amiga.

É isso que eu sou agora?

— Sem problemas, Fredicarlos.

Ele sorri de lado.

— Só Frederico. Por favor.

Concordo e ele me solta, mas ainda sinto a impressão suave de seus dedos em minha pele.

-— Certo, Frederico. Até mais, então.

— Até amanhã, Jubirona. — Ele acrescenta baixinho, mas ainda posso ouvir. — Você não tem ideia do que ficou entalado aqui.

Eu tenho.

E é por isso que eu vou voltar.

Porque também será meu momento de falar.
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4 comentário (s)

  1. Oi, Pãmela. Como vai? Menina o seu texto ficou bom hein! Parabéns! É sempre agradável vir aqui e o ler. Abraço!


    https://lucianootacianopensamentosolto.blogspot.com/

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  2. ISSO AI, VOLTAAAAAAAAAAAAAAAAA MESMO Jubirona!!!!!!!!!!!!!!!!
    A junção desse texto com a música ficou tudo PERFEITOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!
    Nossa, cadê os textos novos? Estou em abstinência!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
    #ficaadica
    beeeeeeeeeeeeijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com/

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    1. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK JUBIRONA HAHAHAHAHAHAHAHH
      preciso escrever hein????
      já estou pensando em algo!!!!!!!!!!!! HAHAHAHAHAHHAHAHA

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